Análise Hertzberger
O presente texto tem como função proceder a uma análise do meu espaço doméstico/cotidiano a partir dos conceitos abordados pelo arquiteto Herman Hertzberger no livro “Lições de Arquitetura”. Nesse sentido, cuidarei de separar em tópicos alguns dos conceitos por ele abordados, encaixando-os ao contexto em que vivo.
Público e privado:
De acordo com Hertzberger, os conceitos de “Público e privado” correspondem, respectivamente, à uma área acessível a todos a qualquer momento e à uma área cujo acesso é determinado por um pequeno grupo ou por uma pessoa que tem a responsabilidade de mantê-la. Nessa perspectiva, o meu quarto é o cômodo da casa que eu considero mais privado, já que sou eu a pessoa responsável por ele.
Demarcações territoriais:
No livro, Herman aborda as “Demarcações territoriais”, conceito que determina se um espaço é mais ou menos privado, dependendo do grau de acesso que as pessoas têm a ele. A partir disso, é possível pensar que a forma com que os cômodos da minha casa estão dispostos demonstram uma demarcação territorial. Isso porque, partindo do meu quarto, que somente eu tenho acesso, e pensando em outras partes da casa, como a sala de estar, banheiro ou área de churrasco – locais que todos os moradores têm acesso – elas podem ser consideradas menos privadas já que são espaços utilizados e cuidados por todos. Ademais, a rua onde moro e a praça situada bem próxima a minha casa são exemplos de espaços públicos pois são acessíveis a todos.
Zoneamento territorial:
É possível perceber o conceito de “Zoneamento territorial” na minha residência, já que ele diz respeito ao fato de o caráter de cada área depender de quem zela por ele. Assim, cada cômodo da minha casa apresenta um caráter diferente. Como exemplo, destaco que o meu quarto apresenta características que eu dei a ele, como a prateleira com livros e a cor das paredes. Já as outras obras feitas no lote, tais como a área de churrasco e a varanda, são construções que não representam traços de uma pessoa específica da casa, já que todos as utilizam.
De usuário a morador:
Tendo em vista o conceito “De usuário a morador” abordado no livro, o qual compreende a responsabilidade do arquiteto de criar condições para que o usuário obtenha um maior senso de responsabilidade e envolvimento com o espaço, é possível utilizar o meu quarto como um exemplo disso, uma vez que a pessoa que o utiliza sou eu e, nesse sentido, eu contribuo constantemente para construção desse lugar, seja colocando quadros nas paredes, pintando-o ou mudando a posição dos móveis. Dessa forma, eu deixo de ser apenas uma usuária e me torno uma moradora desse local, já que me apeguei sentimentalmente a ele. No entanto, nos outros cômodos da casa e em outros espaços construídos no lote, isso não acontece, pois eu não sou a única pessoa responsável por eles, assim, o máximo que eu costumo fazer é dar algumas sugestões sobre como eu gostaria que o local ficasse, porém, nem sempre essas sugestões são acatadas.
Conceito de obra pública:
De acordo com Hertzberger, os arquitetos devem criar os espaços públicos de modo que a comunidade se sinta responsável por eles. Assim, para exemplificar esse conceito, é possível abordar a praça próxima a minha residência. Nesse caso, percebe-se que grande parte dos moradores não zelam por ela – realidade demonstrada pelo fato de muitas pessoas jogarem lixo no chão desse local –, mesmo com a presença de lixeiras em toda sua extensão e, também, pelo fato de não cuidarem dos bancos desses lugares já que alguns deles são cobertos por pichação, sendo este ato considerado crime no Brasil. Portanto, na vizinhança, eu não tenho nenhum exemplo positivo de que as pessoas se sintam responsáveis pelos espaços públicos.
A rua:
A questão da rua é um aspecto que deve ser observado, pois, ao mesmo tempo que muitas pessoas a veem como algo perigoso, Herman aponta que os arquitetos devem tornar a rua um espaço de convivência. Assim sendo, na minha rua – que, por sua vez, é muito tranquila –, eu posso citar um exemplo positivo relacionado a este tema: alguns moradores, antes da pandemia, costumavam se reunir para sentar na calçada em frente à casa de algum vizinho para conversar. Porém, eu percebo que a rua carece de incentivos para que se torne um espaço de socialização.
Funcionalidade, flexibilidade e polivalência:
De acordo com esses temas abordados por Herman Hertzberger, os arquitetos devem projetar os espaços de modo a deixar possibilidades para que eles possam ser utilizados de diversas maneiras pelas pessoas sem perder sua função original. No meu quarto, por exemplo, eu posso fazer isso, já que tenho uma escrivaninha para estudar, mas, ocasionalmente, ela se torna uma mesa utilizada para comer, assim como posso utilizar a cama como uma escada para poder alcançar as coisas que ficam guardadas em lugares mais altos, mas, ainda assim, todos esses objetos retornam a sua função original. Na parte externa, os espaços são utilizados como lavanderia, área de churrasco, espaço para festas, ou seja, esses espaços apresentam muitas funções dependendo do momento em que precisam ser utilizados.
O espaço habitável entre as coisas:
De acordo com esse conceito, é importante que o arquiteto torne o espaço mais receptivo a diferentes situações. Nessa lógica, um exemplo desse tema presente na rua da minha casa são as calçadas, pois elas são utilizadas não somente para andar, mas, também, para se assentar. Já na praça que abordei, as pessoas utilizam os bancos para assentar e para deitar. Nesse sentido, é possível dizer que as pessoas têm oportunidades de mudar o uso de determinado objeto no espaço em virtude do grau de adaptação que ele possui para situações diversas.
Lugar e articulação:
O conceito de lugar e articulação abordado no livro leva em consideração as dimensões dos espaços. Isso porque o tamanho de um espaço deve ser suficiente para atender as necessidades de quem o utiliza. Tomando como exemplo o meu quarto, eu o considero um local que atende a todas as minhas necessidades, pois tenho uma escrivaninha espaçosa, uma cama de solteiro e um guarda roupa que dispõe de tamanho suficiente para acomodar minhas roupas e outros pertences. Todavia, a sala de estar da minha casa pode ser considerada um problema, já que ela não tem a capacidade de abrigar todos os moradores da casa ao mesmo tempo, e, por isso, quando queremos nos reunir, utilizamos a parte externa da residência, que, por sua vez, é espaçosa e pode acomodar a todos.
Além disso, Herman aborda a importância de que os espaços possam proporcionar interação entre as pessoas. Nesse sentido, levando em consideração a praça supracitada, dificilmente ela estimularia o diálogo entre pessoas adultas que não se conhecem, uma vez que esse local possui muitos bancos espaçados, possibilitando que os usuários se sentem sozinhos ou com pessoas que já conhecem, sem que tenham que interagir com os indivíduos sentados em outros bancos. No entanto, diferentemente do que acontece com os adultos. é interessante perceber como a praça possibilita que as crianças interajam entre si, já que, nesse local, há alguns brinquedos e, assim, várias crianças os utilizam ao mesmo tempo, fato este que viabiliza a interação.
Visão I:
Sobre o conceito de Visão I, abordado por Hertzberger, ele aponta como os níveis são interessantes para que possibilitem a intimidade das pessoas, mas que, ao mesmo tempo, não restrinjam excessivamente o campo de visão do outro. Nessa perspectiva, eu tenho um exemplo desse tema na minha casa, senão vejamos: quando olho da janela do meu quarto, eu posso ver o segundo andar da casa – espaço onde está situado a lavanderia, área de churrasco e o espaço de lazer – e as pessoas que estão na parte de cima também podem me ver. Todavia, quando quero mais intimidade, basta que eu feche a janela ou a cortina.
Visão II; Visão III:
O conceito de Visão II diz respeito ao fato de trazer o mundo exterior para dentro de um local e o conceito de Visão III aborda o fato de que as obras arquitetônicas devem possibilitar a visão para o mundo exterior. Nesse sentido, eu tenho um exemplo, na minha casa, que aborda esses dois termos, isso porque, quando estou no segundo andar, é possível que as pessoas que estão passando na rua, ao olharam para cima, vejam o que eu estou fazendo. Além disso, desse mesmo espaço, eu também consigo ver o movimento de veículos e pessoas na rua da minha casa.
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